Preço e Valor,  Reflexões sobre o consumo consciente a partir da moda e das grandes promoções.

series da jardin, roupas em seus cabides, um convite ao consumidor consciente. fotografia Juliana Vale, peças disponíveis na  LOJA JARDIN: Address: R. Lavras, 92 – São Pedro, Belo Horizonte – MG, 30330-010 Phone: (31) 2511-6061 , acervo Jardin. Busco, a partir desse verbete, refletir os termos “maneira ou modo”, como os meios de vivenciar o que a moda nos propõe e alguns momentos impõem, mas mesmo essa ditadora de costumes é fortemente influenciada por modos de consumo e assim desenvolve propriamente os seus; Afinal gastar passou tristemente a estar na moda. Sempre estivemos envoltos por um pacto social ao qual: preço e valor dialogam constantemente com mercadoria e mercado. Tentarei refletir nossos meios mais básicos da necessidade e as mais frívolas situações de satisfação. Temos como noções de preço e valor situações que nem sempre são as mesmas; Por exemplo, quando pensamos o valor de uma peça de roupa em sua essência mais básica: ela nos veste, cobre, acalenta e protege, nos ornamenta e nos dá personalidade, nos permite dizer quem somos e contar estórias. Com isso já temos um processo que agrega certo valor a esse produto que é a roupa, também temos as pesquisas, o desenvolvimento de matéria-prima, as metodologias de desenvolvimento e a produção para a concepção de cada peça. Tudo isso passa a agregar valor a esse produto. Também podemos entrar em questões sociais e afetivas que se somam em valorização, como o design e conceito da peça. Mas quando pensamos em preço, temos de aprofundar ainda mais nossas reflexões, pois existem inúmeros processos envoltos por uma única peça de roupa e os valores desses processos podem ser alterados, ganhar um preço que muitas vezes não coincide a mercadoria ofertada como produto. No mercado de consumo da moda somos posicionados por entre dois extremos; de um lado temos as grandes corporações com suas produções exorbitantes, as quais os valores de seus processos são quase dizimados em mínimos preços que são refletidos em seus produtos que constantemente são reproduzidos milhares de vezes em réplicas de réplicas, quase esvaziando os sentidos de valor de uma peça de roupa, tristemente a transformando em um pequeno reflexo das frivolidades da atualidade que em um relance de nosso olhar desaparece surgindo outro. Por outro lado temos pequenos produtores em uma rede de produção de moda consciente que repousam nos processos que podemos chamar de autorais, respeitando a fruição do tempo de concepção de um produto e buscando empregar o preço e o valor justo, e que a todo instante de modo transparente e consciente trazendo a tona seus processos para o consumidor, em tentativas de criar aproximações e conscientizações do indivíduo para com a roupa, e as relações de consumo consciente. *podemos ler mais sobre pequenos produtores o fazer manual e autoral a partir do slow fashion em nosso artigo anterior, acesse: https://use-jardin.com.br/o-respiro-do-tempo-e-o-suspiro-das-maos-refletindo-o-tempo-do-fazer-manual-a-partir-do-slowfashion/ series da jardin, roupas em seus cabides, um convite ao consumidor consciente. fotografia Juliana Vale, peças disponíveis na  LOJA JARDIN: Address: R. Lavras, 92 – São Pedro, Belo Horizonte – MG, 30330-010 Phone: (31) 2511-6061 , acervo Jardin. Atualmente somos impostos a um modo de viver cada vez mais “tendencioso” estruturado por uma certa sensação de desejo, de posse e de pertencimento, movimentados por toneladas de páginas de revistas de consumo e também por breves vislumbres do click ou “touch” de nossos aparelhos tecnológicos em suas telas digitais que se tornaram as novas vitrines para meios de publicidades, propagandas, campanhas e influencias de marketing que nos levam a loucura, ou melhor, direto para as lojas movidos por um desejo de consumo... Já nos deparamos muito com o termo “vítimas da moda”, usado muitas vezes para referenciar as situações de mau gosto ao se vestir e se portar que algumas pessoas passam, tornando-se uma vítima de si mesma. Mas a maior vítima de todas é própria moda e seu sistema. Penso que o maior mau gosto são as compras exorbitantes impostas ao consumidor de um modo nem sempre sutil, e o mau comportamento são os gastos sem pensar no preço e no valor dentro de uma realidade do consumo consciente. Com a passagem das estações são permitidos os lançamentos de novos produtos, em nosso caso *novas roupas, *nova coleção. Mas é necessário pensarmos que o novo não descarta a essência do antigo, mas sim agrega uma continuidade de uma linguagem de um produto para outro, esse processo de troca do antigo para o novo dentro da moda consciente em um sistema de consumo também conscientizado permite de um modo menos abrasivo trazer no lugar do valor fixo do produto uma leve diminuição de um preço, criando uma oportunidade de aquisição acessível ao consumidor. Afinal em alguns momentos um produto abre espaço para outro, esse processo é o que chamamos de liquidação, não estamos entrando no termo mais enraizado da palavra liquidar, por fim, ou criando um neologismo com o produto e seu preço, mas sim permitindo eliminar - diminuir um preço que antes já era justo, dando lugar para outro valor que se justifica com a chegada de outros e novos produtos. Antes existia um tempo saudável e um romantismo entre o consumidor e roupa no processo de consumo consciente, por entre as araras de roupas, as roupas nos cabides e as vitrines havia uma transição do olhar para com o toque nas peças vistosas no mostruário, tínhamos todo um tempo particular para com o processo de experimentar as peças que desejamos, sem me esquecer de mencionar as gratas surpresas que o espelho dos provadores nos causava, era o momento da decisão, sentir o caimento e o movimento, perceber, os volumes, as texturas e cores irradiadas em nossos corpos, pensávamos com calma: levar ou não... Todo esse processo era como um namoro, uma declaração de amor entre a roupa e o comprador. Com o surgimento da semana das grandes promoções - Black Friday, Black Week, Green Friday, Cyber Monday, etc - e com um pensamento internacionalizado pelo consumo em massa influenciado por grandes conglomerados da moda, que movimentados por uma busca incessante de um lucro cada vez maior, sem perceber e refletir nos impactos de um consumo inconsciente e inconsequente, temos como resultado a criação de grandes volumes de resíduos, e a desvalorização da mão-de-obra do trabalhador, não o remunerando de maneira justa nos processos de confecção. Juntamente as muitas propagandas e exigências do mercado por promoções e descontos que se adequem a essa semana, os pequenos e autorais produtores passaram a ceder às relações de preço e valor em seus produtos. Não podendo competir com as grandes empresas com relação aos descontos, os pequenos, mesmo transparecendo preço justo em seus produtos, que com o passar dos anos, se tornam cada vez mais obrigatórios em uma tentativa de atender às demandas de consumo, sofrem com este sistema. Seus preços refletidos no real valor de seus produtos, respeitando seus processos, são reduzidos ainda mais, o que cria uma oportunidade para o consumidor adquirir um produto com desconto, mas muitas vezes se torna um problema para a sobrevivência do pequeno produtor no longo prazo. Em resumo, estas promoções estimulam o consumo excessivo, não são saudáveis para os pequenos negócios nem para a cadeia produtiva de uma moda responsável e muito menos para o meio ambiente.